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Perspectiva de procurement em relação à crise: o que se pode esperar?

Written byLeo Cavalcanti

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Written byLeo Cavalcanti

July 6, 2023

July 6, 2023

July 6, 2023

No novo episódio do podcast Procurement Hero, Leo Cavalcanti, CEO e cofundador da Linkana, conversou com Mônica Granzo, founder e CEO da Smarkets Inteligência de Negócios, empresa especializada em compras e operações BPO - Business Process Outsourcing de Compras. 

No bate-papo, elas falaram sobre perspectiva de procurement em relação à crise atual, liderança feminina em um mercado predominantemente masculino, e vários outros temas.

Também foi a oportunidade de conhecer a história inspiradora de Mônica, uma empreendedora nata de Limeira, no Rio Grande do Norte, que começou a trabalhar aos 8 anos e já empreendia aos 13. 

Sua determinação e resiliência foram fundamentais para que ela se tornasse a mulher mais jovem a assumir uma função de supply chain em um famoso hospital do interior. 

Seu sucesso foi tão grande que ela foi convidada a se mudar para São Paulo para implementar um projeto de supply chain, que foi replicado por diversos hospitais da rede. 

Essa experiência motivou Mônica a seguir a carreira de empreendedora, fundando a Smarkets, uma empresa de tecnologia que entrega um leque de serviços com foco em redução de custos, produtividade e saving. 

Porém,  ela também teve seus momentos de frustração na carreira, quando assumiu responsabilidades maiores do que poderia entregar e metas ambiciosas demais para serem atingidas. 

Esses erros trouxeram aprendizados importantes, como traçar metas mais factíveis e crescer com constância ao invés de crescer rápido, sob risco de não crescer. 

Mônica também fala sobre as barreiras que ainda existem para as mulheres no mundo da tecnologia, mas acredita que elas estão trilhando o trajeto para mudar isso e abrindo novos caminhos. 

Confira, agora, essa história de superação em sucesso de uma empreendedora brasileira. Siga a leitura e conheça Mônica Granzo, mais uma compradora do futuro e sua perspectiva de procurement em relação à crise.

https://open.spotify.com/episode/6qWLP1XxylfWMGhbi9ofYi?si=YuX-UdG_Qc-pB3TI38CLzg

Conhecendo Mônica Granzo

Leo

E aí, Mônica! Muito obrigado por sua presença. Essa conversa demorou, mas saiu, não é? Poxa, é sempre difícil achar um espaço na agenda. Muito obrigado por participar do nosso podcast

Eu queria que você já se apresentasse: Mônica Granzo, conta aí essa sua trajetória profissional em compras, primeiro como executiva, depois nesse mundo maluco de empreendedorismo. Conta como foram esses anos até chegar agora, no nosso ano de 2023.

Mônica

Leo, obrigada pelo convite, obrigada, Linkana, pela oportunidade. Dizem que as conversas difíceis são as melhores — as difíceis de conciliar.

Eu sou natural de Limeira, no interior de São Paulo. Trabalho desde os 8 anos, porque venho de uma família bastante humilde e desajustada, e empreendo desde os 13 — comprava e vendia sapatos, produzia chocolate e vendia. 

Fui vendedora, caixa de supermercado. Aos 18 entrei como recepcionista em um grande hospital no interior de São Paulo e saí de lá sendo a mulher mais jovem — mulher e mais jovem profissional a assumir uma posição de diretoria de supply chain, já tendo concluído minha faculdade de Ciências Contábeis, meu MBA em logística pela FGV.

Vim para São Paulo para captar o sonho, da época, para assumir um projeto de digitalização e centralização de compras de 40 hospitais. Então eu fiz esse movimento: toda a implantação desse projeto durante 8 anos.

Tive oportunidade de replicar esse projeto nas unidades de saúde da Sonangol, que era uma parceria dessa instituição com a Sonangol. 

Quando minha filha tinha 2 meses, decidi que era um novo momento, realmente novo ciclo de vida e decidi então montar a Smarkets, apostando muito na minha essência empreendedora, na minha vocação, e com objetivo de transformar em impulsionar o futuro das transações de compra e venda. 

Então falando rapidamente da minha jornada profissional, e também o que me motivou a ser empreendedora foi essa história de bastante superação e resiliência. Sabemos que todo empreendedor precisa ter essas duas características para conseguir ter sucesso, ainda mais em um país e em uma área com tantos desafios.

Identificando oportunidades em procurement

Leo

Que massa! Não sabia que já tinha tido empreendedorismo antes da carreira no mundo corporativo.

E aí você falou dessa transição. Falou em um momento de vida diferente, que entrou nessa jornada. Mas eu fiquei curioso para entender se foi alguma coisa específica.

Você passou muito tempo ainda em supply chain e compras. Teve algum problema, ou você identificou alguma oportunidade e disse: 

"Tem muito disso, ninguém ainda está resolvendo, e acho que a pessoa que vai resolver sou eu". Algum problema que ficou na sua cabeça por muito tempo e foi assim que Smarkets nasceu, ou foi uma coisa mais sem planejamento mesmo?

Mônica

Eu acredito que mesmo quando planejamos algo, quando faz parte do seu desafio de vida, do seu propósito, você com certeza vai viver essa experiência e então vai ter um start e as coisas vão fluir para o caminho que precisam fluir. 

Mas tirando a minha crença de lado, nessa empresa que eu estruturei o projeto de centralização e digitalização de compras, já tínhamos um nível de maturidade da área bastante elevado e éramos procurados para outros hospitais que queriam esse tipo de solução.

Inclusive, nós certificamos a central de compras com a ISO 9000. Acho que ainda é a única central de compras com essa certificação no Brasil, porque nós não certificamos a empresa como um todo, somente a unidade de negócio. 

Então eu vi uma oportunidade importante de mercado que estava batendo na minha porta, mas que não era a atividade econômica principal da empresa — prestar serviços de procurement

Como o projeto já estava maduro, eu já tinha concluído o meu ciclo e conciliava a minha vida pessoal com a conclusão, ou a maturidade daquele projeto, com uma demanda que estava batendo na minha porta

Então acho que a característica foi identificar a oportunidade e ter coragem de capturá-la. Isso é um pouco do que trouxe a inspiração para empreender naquela ocasião. 

A atuação da Smarkets no mundo de compras

Leo

Legal! Acho que isso puxa até um gancho de uma coisa que eu já tive curiosidade de entender melhor. Você pode aproveitar e compartilhar com todo mundo que está ouvindo o que exatamente a Smarkets faz nesse mundo de compras, Mônica? Como resumiria a atuação de vocês como empresa? 

Mônica

Somos uma empresa de tecnologia, mas que entrega isso por meio de serviço. Hoje temos três produtos principais: um é o BPO de compras, que operamos dentro da nossa plataforma.

BPO de compras

Algumas etapas do processo end to end já temos automatização, o que nos garante trazer um diferencial competitivo em termos de custo para o mercado, garantindo questões de compliance & governance e também fortalecendo a nossa proposta de valor, que é redução do preço do produto.

O saving é o indicador que norteia compras, não tem como separarmos qualquer solução desse indicador importante, mas também traz essa eficiência operacional aportada por tecnologia. 

Marketplace

Temos um marketplace, que é uma interface tecnológica com catálogos que negociamos com escala de todos os clientes que já tem recorrência dentro da nossa base. Muito inspiradas nos principais marketplaces B2Cs, uma experiência bastante intuitiva e fácil.

A requisição pode nascer na nossa plataforma, aí tem uma descentralização, como também toda a governança de orçamento e regras de acesso, ou nascer no RP e consumir no catálogo dentro do marketplace. 

Então esse é um outro produto que lançamos há 2 anos e é a nossa principal fonte de investimento. 

Soluções bodyshop

Temos também, hoje, soluções bodyshop para a área de procurement, que não é a nossa principal oferta, mas reconhecemos que é uma dor de mercado e a gente quer ser parceiro dos nossos clientes.

Muitas vezes também colocamos profissionais qualificados, treinados e geridos em um modelo de cogestão com nosso cliente, visando apoiá-lo na formação do quadro, na formação de equipe. 

Então são três soluções, mas nós temos uma empresa de serviços de BPO, e a tecnologia desenvolvida nos últimos 4 anos pivotou nosso modelo de negócio, fazendo da Smarkets uma empresa de tecnologia, mas que entregasse isso através de serviço. 

Perspectiva de procurement em relação à crise

Leo

Poxa, que legal. Então, se eu puder resumir, além desse braço de BPO de serviço forte, que hoje você tem uma tecnologia embarcada, vocês também começaram a entrar em uma série de automações, vindo outras oportunidades nas quais a Smarkets está crescendo.

Mas pelo que eu percebi também, o core de vocês continuam muito em redução de custos, produtividade e saving, não é? Me parece que é onde orbita boa parte da entrega da Smarkets, e isso até conecta com uma das perguntas que eu ia fazer. 

Estamos, agora, vivendo um momento de crise. O mercado de tecnologia está dando uma retraída grande desde o ano passado, o mercado global, na verdade. É inflação, é guerra, é uma série de coisas que estão acontecendo lá fora e aqui dentro também do Brasil que tem preocupado muitas empresas. 

Eu queria entender um pouco da sua percepção e Smarkets. Vocês estão vendo esse cenário com preocupação? Estão vendo como uma oportunidade? 

Porque muita gente fala que compras é meio acíclico, que ela acaba trabalhando contra os momentos de crise porque é onde as pessoas vão buscar uma redução de custo e, queira ou não, as soluções acabam fazendo isso.

Queria entender um pouquinho como está sua cabeça: está desesperada, está feliz, como está enxergando esse momento novo que a gente está vivendo em 2023? 

Mônica

Olha, Leo, acho que empreendedor nunca tem muita tranquilidade, não é? Em momentos de crise, em momentos de abundância, a preocupação faz parte da nossa vida. 

Então eu acho que é positivo, porque à medida que você está preocupado, você está sempre atento, e a atenção te leva para caminhos legais também, de oportunidades. 

Mas eu vejo um ano de 2023, como de bastante ajuste, sim, no que tange ao mercado de tecnologia, de venture capital que financia muito esse setor, impulsionado não só pelos aspectos macroeconômicos, mas também pela própria eficiência que a tecnologia vem gerando dentro dessas empresas

Se a tecnologia é um impulsionador, é uma alavanca de eficiência, é natural que as empresas desse setor, à medida que garantem também algum avanço em roadmap e alguma maturidade, façam suas lições de casa em transformação digital e tenham oportunidades de reduzir seus custos.

Então, para a Smarkets, reconhecemos que internamente a gente fez a lição de casa em 2022, fomos buscar as ineficiências e as tratamos, transformando-as em eficiência interna. 

Assim, identificamos que isso também pode ser a realidade de inúmeras outras empresas no mercado, que também estão buscando essas ineficiências internas, e a gente se posiciona como uma solução para gerar a redução de custos, para trazer eficiência e compras, que é uma área que está muito atenta e focada a isso. 

Consequentemente, se a gente tem uma empresa, ou um conjunto de empresas, de procurement que traz soluções, como essas pautadas em redução de preço e eficiência, e um mercado atento e buscando, para mim, me parece que temos um match importante, e então surgem boas oportunidades para o ano. 

Eu vejo um cenário bastante positivo para as empresas de procurement — não só para Smarkets, mas para demais do setor — associado a um crescimento da maturidade da nossa área de negócio. 

A pandemia trouxe uma aceleração da transformação digital em várias áreas de negócio e na nossa vida como pessoa física. Então o B2C acelerou bastante, o B2B — vejo bastante estudos e publicações de artigos falando do crescimento do business to business.

Acho que é a nova onda, a da digitalização de muitas áreas de negócio e procurement, tenho certeza, que vai surfar essa onda. Torcemos para isso, não é, Leo? Estamos trabalhando fortemente!

Maiores barreiras em compras e procurement no momento

Leo

Ainda bem que está crescendo. Eu acredito muito no futuro do B2B digital. Procurement realmente cresceu muito nos últimos anos. Acho que isso tem exponenciado: a importância e o protagonismo de procurement. Isso é bom para mim, é bom para você também.

Mas eu ainda falo muito aqui pela experiência Linkana. A gente lida com o cliente grande, não é, Mônica? Estava dando uma olhadinha aqui no seu site, na Linkana temos um cenário parecido e, queira ou não, cliente grande é muitas vezes um desafio.

É dificuldade, é muita exigência, é muita burocracia. Você falou que estamos vivendo um momento de oportunidades que, queira ou não, as soluções de procurement ganham até um valor, uma atenção maior, mas eu entendo que ainda assim não torna fácil a nossa vida para entrar e fazer novos negócios, ampliar a nossa empresa. 

Dada sua experiência — você que já transitou pelos dois lados desse balcão —, o que considera que ainda é o maior obstáculo, um problema dentro das organizações de compras quando você tem essas interações com clientes?

O que, digamos assim, ainda tira você do sério? Por que ainda não funciona direito e já deveria estar funcionando? 

Mônica

Minha visão é o mindset dos decisores. Hoje em dia, tecnologia não é uma barreira. Acho que o conhecimento e acesso à tecnologia, já tivemos um avanço superimportante nisso, mas ainda o nível de burocracia que foi exigido nos últimos anos, para garantir compliance e governança, trouxe uma insegurança na tomada de decisão também dentro das companhias.

Muitas vezes vemos executivos e os decisores com bastante apetite em inovar, fazer diferente, mas é que são, de alguma forma, pressionados a pensar na governança e em compliance em primeiro, em primeira instância, do que pensar na inovação. 

Acho que um caminho importante é termos mais abertura para a inovação dentro das empresas, e isso parte para no tema de desburocratizar a contratação de inovação. Precisa de novas formas de pensar, de novas formas de fazer. 

Então, para mim, a barreira ainda é o mindset. Porém, venho cada vez mais encontrando pessoas que estão aptas a mudar, a fazer o processo de mudança, a inovar. Espero que isso se torne realmente uma tendência, ou seja, que comece a crescer, aí a gente acelera e muda o status quo. 

O status quo ainda é um comprador, ou um decisor de compra, burocrata. Esperamos que ele vire um cara inovador cada vez mais. 

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Leo

Verdade. Você aqui falando e eu só lembrava daqueles questionários maravilhosos de segurança da informação e requisitos de 500 linhas, que é um copiar e colar igual para todos os fornecedores e até bids nada a ver, acho que você conhece esses questionário. 

Mônica

Exatamente! O pessoal, quer comprar, contratar a inovação de uma startup, mas quer todos os requisitos de segurança da informação e de governança de uma grande corporação. Então não tem match, concorda? 

Você espera uma empresa mais ágil, inovadora e não vai encontrar isso com o nível de governança, talvez, de uma grande corporação centenária, que está muito pautada nessa questão.

Mas, ao mesmo tempo, as startups também oferecem uma segurança hoje jurídica, uma segurança em termos de LGPD. Então eu acho que tem muitas startups que estão em um estágio de maturidade que não traz riscos elevados para as grandes corporações. Porém, sim, somos reféns dos inúmeros formulários de segurança, de compliance. 

Eu vi um estudo publicado hoje, que falava sobre a questão mais de empregabilidade no Brasil, que o principal gerador de empregos atualmente  são os pequenos empreendedores, mas que eles ainda não gastam 180 horas no ano para as questões burocráticas.

Então estão ali vendendo, alavancando resultados, e ainda pensando nas questões burocráticas. Não só, é claro, na relação B2B, no relacionamento com os clientes, mas nas questões tributárias, fiscais. O mundo business to business é burocrático. Acho que é uma barreira importante aqui para a gente tirar. 

A falta de colaboração e compartilhamento de dados em procurement

Mônica

E tem mais um tema também: acho que na questão da colaboração ainda temos uma barreira, e essa não é relacionada à LGPD, é realmente de mindset.

O preço é meu, o fornecedor é meu, o senso de propriedade da informação, do dado, da estratégia, da prática, é uma barreira para a gente também inovar, crescer, se desenvolver. 

Então acho que quanto mais colaboração, ou seja, que a gente possa colaborar dados que são de uso comum, que não ferem leis, não ferem nenhuma prática ou regra de compliance, de governança, também é uma evolução que a gente pode ter no futuro e que vai ser transformadora para a nossa área de procurement.

Leo

Concordo 100%, até pelo próprio fundamento da Linkana: nossa premissa é trabalhar como uma fundação de dados de fornecedores compartilhada

Não tem coisa mais ineficientes do que o fornecedor enviar dados N vezes, para N organizações diferentes, passar pelos mesmos processos, e não existir um compartilhamento, uma colaboração, um reaproveitamento e, obviamente, uma maior eficiência e um maior ganho de inteligência nessas informações.

É quase que óbvio isso em outros mercados, mas é como você falou, em procurement a gente ainda está patinando em muitos desses aspectos. Sofremos muito com premissas antigas, coisas de 20, 30 anos atrás. 

Queira ou não a tecnologia é a resposta, mas sem a colaboração de pessoas que gerem as organizações desse processo, vai ser muito mais devagar do que ele poderia ser. 

Mônica

E tem uma outra característica: o comprador é muito competitivo. Eu acho que é uma qualidade importante, mas ele não precisa competir em todas as frentes. Por exemplo, ser competitivo com relação a abrir dados "Meu dado é melhor, então não vou abrir"

A competição é saudável, mas essa característica tão forte do comprador nesse tema também pode ser uma barreira.

Eu sou compradora, não tem como, trabalho nessa área há bastante tempo. Eu falo, depois que eu virei compradora aprendi a negociar pastel na feira. Então a gente negocia tudo. Mas tem que ter um limite disso: até que ponto minha competitividade faz com que eu perca e não ganhe? Se estou colaborando para ser competitiva, essa competição vai me trazer um resultado melhor do que eu colaborar? 

Sempre discutimos muito sobre compras colaborativas, e já tivemos alguns cases de consolidação que trouxeram os resultados superlegais, e uma das barreiras era isso, ter acesso ao baseline do comprador.

Você está competindo com seu próprio baseline, por que você vai tentar trazer uma redução? Nós não somos um competidor contigo, somos uma alavanca adicional. Estamos aqui para te apoiar e criar estratégias adicionais, mas é um trabalho de convencimento árduo que a gente conseguiu romper muitas barreiras.

Mas eu vejo que ainda é uma dificuldade para modelo de colaboração de procurement, ou seja, de negociações, de fornecedores. Então, vamos abrir a nossa mente para sermos mais colaborativos. 

Erros e aprendizados na trajetória de compras e procurement

Leo

Conta comigo! Estou nessa briga aí também. Vamos nessa que chegaremos lá. É o futuro, não é? A gente já acredita nesse futuro, então ele vai chegar mais cedo ou mais tarde. É só, realmente, criar as alavancas de aceleração, como você falou. 

Mas olhar para o problema alheio também é muito fácil. A gente sempre está ali para apontar o problema, para enxergar os desafios em outros lugares, normalmente bem mais fácil para o ser humano. 

Só que, aqui, eu gosto de colocar todo mundo na fogueira. Então vamos fazer também um momento falha nossa. 

Mônica, nessa sua trajetória, se você pudesse citar o maior erro, aquele que chega a dar calafrio quando você lembra que cometeu e que você pudesse compartilhar nesse mundo de compra, seja empreendendo, seja como executiva. E quais foram os aprendizados que você tirou

Mônica

Com certeza foram muitos erros! E eu espero que aconteçam novos e muitos também no futuro. 

Eu acho que o principal erro foi a criação de expectativas muito além daquilo que eu tinha condições de entregar

Sou muito exigente comigo, com um time, com os compromissos assumidos, e muito entusiasta ao mesmo tempo. Essa combinação trouxe para mim a necessidade de rever algumas perspectivas, de rever ideais, inclusive metas.

Eu sempre estava muito distante e sempre me frustrando e, de alguma forma, frustrando também os times, porque você traça metas muitos distantes e eles não alcançam, você se frustra e frustra um time.

Acho que meus últimos erros — e que eu busquei corrigir —, foi realmente estar mais pé no chão, não perder a capacidade de visão, continuar sendo visionária e entusiasta, mas entendendo que eu preciso dar passos menores para conseguir chegar no meu destino, talvez não mais rápido, mas mais consistente. 

É sonhar demais e querer que sonhos se realizem muito rápido. Isso traz frustrações e decepções não só para mim, mas para o time e, consequentemente, pode ter perdas para a equipe.

Leo

Achar esse equilíbrio é complicado, não é? Porque você não pode nem ser conservador demais porque, se não, não conseguirá crescer e chegar aonde quer; mas se você também for otimista demais, for surreal demais, isso pode criar uma expectativa que nunca vai se alcançar. Como você falou, é um problema de desmotivação generalizada. 

Então encontrar esse ponto ideal na curva é o que a gente tenta fazer todo santo dia. E enquanto você falava, me identifiquei muito com você porque, queira ou não, estamos trilhando um caminho que, fazendo coisas diferentes, mas as premissas de empreendedorismo são muito parecidas. 

Parece que quando a gente vai compartilhando as histórias, vemos que é muito mais parecido do que imaginamos. Por isso, eu tenho bastante empatia também com sua história, porque eu estou me vendo nela e em muitos desses pontos. 

Dica! Aproveite e confira também: "Trajetória em procurement: quais os principais erros e aprendizados?"

As barreiras de gênero no mundo corporativo

Leo

E mais uma coisa, Mônica, que eu fiquei curioso. Enquanto você falava, estava refletindo sobre isso que você falou: "Poxa, eu já fui compradora, estou empreendendo". Eu estou nesse mercado há menos tempo que você — estou agora só há 5 anos em compras e procurement, principalmente com a Linkana. Mas uma coisa que claramente ficou muito óbvio para mim logo no início, é que ele é um mercado bem masculino, não é? 

É um setor dominado por homens, os executivos são homens, até os fundadores e donos de empresas de tecnologia são e eu converso muito mais com homens. Enquanto você falava, eu pensei: "Pô, a Mônica está em um espectro oposto". 

Primeiro, porque mulheres empreendendo não é tão comum no mercado de tecnologia — isso é estatístico no Brasil ainda, infelizmente. É muito, muito pequena a estatística. Saiu até alguns estudos sobre isso no ano passado, acho que eu até comentei, você também tinha comentado lá no LinkedIn.

Eu queria que você fizesse uma análise desse cenário. Você concorda com essa afirmação? Vem vendo isso mudar de alguma forma? Está vendo uma perspectiva diferente para os próximos anos, ou as coisas estão ficando na mesma? 

Mônica

Eu tinha uma necessidade, uma força interna que não me deixava olhar muito para os desafios, mas para as formas de vencê-los. Com certeza o gênero, no meu caso ser do gênero feminino, foi um desafio adicional durante toda minha trajetória profissional, não só agora como empreendedora, mas também como executiva. 

Mas eu não colocava isso muito na minha fala, não era algo que eu tinha parado para refletir e falar: "Nossa, eu poderia talvez estar em outro patamar, em outro estágio empresarial se não tivessem essas barreiras do gênero".

O ano passado também foi um ano de muita reflexão e eu percebi que, com certeza para mim — e eu acredito que é a realidade de outras mulheres que empreendem nesse segmento de procurement e tecnologia — é um desafio adicional superar a questão não do preconceito, mas de um pré-conceito com relação ao gênero, por ser realmente um mercado ainda predominantemente liderado por personagens do gênero masculino. 

Como eu falei, não colocava, não tinha essa consciência, mas a adquiri recentemente, e continuo não dando foco para isso, não pensando nisso. Mas espero que outras mulheres empreendedoras, não só no nosso segmento, mas principalmente, já que quase não temos mulheres nesse setor liderando empresas de tecnologia, que elas tenham uma vida melhor depois de mim.

Desafios de iniciar esse caminho

Então, o que me conforta é o desafio de assumir a dianteira de um assunto, de um tema. Mas espero que a gente realmente abra caminho para outras mulheres que possam empreender porque, afinal de contas, o gênero não define a sua competência, não é? 

Eu adoro trabalhar. Temos a maior parte do quadro de profissionais do gênero feminino., não é uma política, é algo muito orgânico, ecológico dentro da empresa. Mas eu adoro trabalhar com profissionais do gênero masculino. Para mim, gênero não é um critério, não é uma diferenciação, pelo contrário, é uma complementação.

Estamos abrindo mais espaço para as mulheres nesse mercado de procurement e tecnologia, mas ele ainda é minoritário, e eu espero que tenha mais celeridade nesse tema e que então a gente tenha mais igualdade de gênero no futuro próximo. 

Está evoluindo, vejo uma mudança, mas ainda é lenta, bem lenta. E eu não gostaria que viesse por cotas, não acho que é o caminho fazer isso com as mulheres. Nós temos competência para entrar e assumir nossas posições, independentemente de cotas. É o que eu gostaria.

O único pedido, se eu pudesse fazer, seria: não liberem cotas na empresa para ter mulheres. Deixem-nas ocuparem esse espaço, mas abrem espaço. Se abrirem esse caminho, com certeza, terão muitas mulheres ocupando-o com alta competência. 

Aproveite e leia também: "Diversidade de mulheres na cadeia de fornecedores: Dicas para colocar em prática"

A importância do exemplo para abrir caminhos no setor de procurement

Leo

Massa! Eu acho que essa é uma mensagem bem legal. E você falou que não pensa muito nisso como estratégia, mas eu brinco muito na Linkana que eu acredito em liderança por exemplo. Isto é, você é muito mais do que você faz do que o fala.

Você, Mônica, já dá um exemplo muito grande só pelo fato de estar ocupando esse espaço, empreendendo como mulher no mercado de compras. Isso já é o maior posicionamento que você poderia ter. Porque muita gente fala, fala, mas na hora do "vamos ver" acaba não parecendo, ou não assumindo riscos e todo o peso que isso atrai. 

Acho que, só por isso, você já está mais do que de parabéns e admiro muito essa sua trajetória, não só porque empreender é muito difícil, mas eu sei que certas coisas também ficam mais difíceis. E esse é o nosso mercado, ainda tem um pouco dessa dinâmica. 

Infelizmente, a gente lida muito com isso na área de supply, nos próprios fornecedores. Hoje, há empresas fornecedoras lideradas por mulheres, o que também é um dos grandes desafios das corporações e um tema que a gente vem enfrentando na Linkana.

Então, é um problema que, pelo menos agora, está identificado e ocupado contigo. Mas mais do que qualquer outra coisa, é o exemplo. Fazer e puxar até organicamente, queira ou não, isso atrai mais pessoas, mostra que é possível. 

Acho que é um caminho muito massa, muito orgânico e muito sustentável também. Ele cria raízes de longo prazo. 

Mônica

Isso mesmo! Obrigada, Leo, admiração é recíproca. E só complementando a minha fala, eu ainda vejo mulheres que também são, de alguma forma, não digo machista, mas eu ainda vejo muito disso do lado feminino também. 

Quando vejo uma empresa hoje liderada por mulher, eu abro todas as portas e, claro, vou testar a competência da companhia e se ela tem skill. Mas, para mim, a mulher tem tanto valor quanto o homem.

Dentro da Smarkets as lideranças são predominantemente femininas porque a gente abriu a oportunidade de ter mulheres, mas poderia ser homens porque não tem uma política.

Então, se a gente abre a oportunidade para as pessoas darem um exemplo, se é um gênero feminino que dá exemplo, que ótimo! Ela está justamente criando uma referência pelo esforço, pela dedicação, pelo trabalho que desempenha. 

Isso é um pouco do que eu acredito e espero que isso traga bons resultados para a questão da igualdade de gênero dentro das empresas, não só de procurement e tecnologia. Mas como você falou, nesses setores ainda temos uma desigualdade importante, um desequilíbrio. 

Quem é a compradora do futuro?

Leo

Adorei essa conversa e sempre fazemos a mesma pergunta aqui para finalizar com chave de ouro, e a farei para você obviamente também: Mônica, quem é, para você, o comprador ou a compradora do futuro? 

Mônica

Olha, eu acho que o comprador e a compradora do futuro será alguma solução de tecnologia, inventada espero por mim, por você, ou por outras startups da nossa área.

A maior parte das atividades de compra não serão realizadas por pessoas, serão feitas por máquinas, por softwares, por soluções. 

Então eu acho que o comprador do futuro vai ser o comprador cognitivo, de fato estratégico. Sei que isso é muito clichê, mas será um profissional que pensará em grandes estratégias e, principalmente, será aquele que conseguirá criar, cada vez, mais inteligência na solução artificial.

Porque à medida que a gente também repassa o conhecimento de qualquer estratégia para uma Inteligência Artificial, conseguimos replicar esse modelo em grande escala.

Assim, acho que o comprador do futuro será, acima de tudo, um professor de tecnologias, e que a atividade que a gente vê hoje de compra será substituída por uma Linkana, por uma Smarkets — pelo menos eu trabalho facilmente para isso.

E que o comprador possa ter uma atividade diferente e muito mais geradora de valor no futuro. Não acho que a profissão vá se distinguir, mas mudará as responsabilidades e as competências dela

Como conhecer mais sobre a Smarkets e sobre a Linkana

Leo

Maravilha! Fechou com chave de ouro e muito obrigado por colocar a Linkana nessa lista também. Estamos nessa guerra de Inteligência Artificial, dados e tecnologia. Creio que, mais do que nunca, esse debate está presente, então concordo muito com você. Acho que essa função vai mudar muito, vai ficar bem diferente do que estamos acostumado a ver. 

Mônica, foi um prazer falar contigo, o tempo voou aqui. Conheci muito mais da sua história. Confesso que conhecia pouco. A gente lê LinkedIn, vê os posts, as notícias, mas sempre falar com a pessoa ajuda muito a entender o contexto, a entender a visão de mundo. Então foi um prazer aprender contigo hoje. 

E para encerrar, queria que você deixasse sua mensagem final. Como o pessoal pode falar contigo, te encontrar. Como é que o pessoal pode fazer para, eventualmente, conhecer o trabalho da Smarkets? 

Mônica

Leo, eu também quero agradecer pela oportunidade de estar aqui contando um pouco mais a minha história, da minha visão, falando da Smarkets. Também acompanho você no LinkedIn. Parabéns por tudo que vocês estão construindo. Estão posicionados no presente e no futuro.

A Smarkets hoje tem vários canais de troca de informação e de conexão. Então nós estamos no LinkedIn, no Instagram, sempre vocês conseguem nos achar ali pelo próprio nome, Smarkets Inteligência de Negócio. Nosso site é www.smartkets.com.br.  

Eu também estou nas redes sociais como Mônica Granzo e fico à disposição para trocar, para discutirmos um pouco mais sobre tendências. 

Falamos sobre automação, falamos de comprador de futuro, eu sou uma entusiasta desse tema, independentemente da Smarkets, é a minha ciência e a que eu estudo e invisto tempo todos os dias. Vai ser um prazer trocar mais informações com quem quiser falar um pouco mais sobre esse assunto.

Leo

Fechadíssimo, Mônica. Valeu demais! Muito obrigado, galera, e até o próximo episódio. 

Mais uma conversa massa. Obrigado por ter escutado. Se você gostou, não esqueça de seguir o nosso podcast. 

Se quiser saber mais sobre a Linkana, acesse o nosso site e siga nossas páginas no LinkedIn, Instagram e YouTube. Eu sou Leo Cavalcanti, CEO da Linkana.

https://open.spotify.com/episode/6qWLP1XxylfWMGhbi9ofYi?si=MaWv834RS2uJ-uatmdhSnA

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