Gestão de Fornecedores

Como criar um programa de diversidade de fornecedores do zero?

Written byLeo Cavalcanti

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Written byLeo Cavalcanti

July 7, 2023

July 7, 2023

July 7, 2023

Como criar um programa de diversidade de fornecedores do zero foi um dos principais temas debatidos entre Giovanna Martins, Commodity Líder (Compras) para Facilities Brasil e Líder do Programa de Diversidade de Fornecedores Brasil da Baker Hughes, e Leo Cavalcanti, CEO e cofundador da Linkana em mais um episódio do podcast Procurement Hero.

Giovanna é formada em relações internacionais pela UFF e, hoje, atua como compradora. Ela iniciou a carreira profissional na área de Recursos Humanos de uma empresa de óleo e gás, mas logo percebeu que sua paixão estava na área de compras. 

Foi então que ingressou na Baker Hughes, onde se desenvolveu muito graças à cultura de rotatividade em todos os setores da empresa. 

Ao longo de sua trajetória, o auge da carreira de Giovanna foi liderar o programa de diversidade de fornecedores na Baker. 

Apesar do seu sucesso, sabe que criar um programa de diversidade de fornecedores pode ser desafiador. 

Ela destaca que os principais obstáculos incluem o tempo necessário para entender tudo o que está por trás do aprendizado, a falta de uma base de dados de fornecedores atualizada e a dificuldade de inserir o programa na rotina do comprador

Além disso, é preciso ter paciência e esperar que o mercado brasileiro se conscientize sobre a importância da diversidade. 

Conheça agora um pouco mais da trajetória de Giovanna Martins, mais uma compradora do futuro, e o que ela aprendeu sobre como criar um programa de diversidade de fornecedores do zero.

https://open.spotify.com/episode/3NPAgVcn5aiRFWzRe2E02h?si=w6KB1x6lReSzlufeS8cceg

Como começou a carreira de Giovanna Martins?

Leo

Giovanna, finalmente, essa conversa saiu! Muito obrigado por aceitar o convite, e muito obrigado pela presença aqui no nosso podcast

Giovanna

E aí, Leo? Nem acredito, conseguimos! Muito obrigada pelo convite. Estou superanimada de estar aqui com você hoje. 

Leo

Bom, então vamos lá! Já é a segunda mulher seguida que eu tenho na gravação do nosso podcast. 

Eu já queria que você começasse fazendo as honras. Que contasse um pouco mais sobre sua trajetória profissional e como é que você foi parar como líder, gerente de commodities na Baker e também líder do programa de diversidade de fornecedores da empresa. 

Giovanna

Maravilha! Contar um pouquinho sobre mim, então. Sou internacionalista, antes de tudo. Fiz relações internacionais na UFF, aqui em Niterói, e comecei no mundo corporativo estagiando na Chevron, óleo e gás, desde sempre na minha vida. 

Só que eu comecei como RH e fiquei três meses apenas. Senti que a dinâmica não era para mim e fui chamada para uma vaga de estágio na GE óleo e gás, que é a atual Baker — tivemos a fusão e a separação.

O início da jornada em compras

Comecei como estagiária de compras indiretas e, na época, fiz um estágio superintensivo, que acho que foi a minha sorte do programa, porque a gestora que tive teve uma inteligência muito, muito boa de me colocar com rotação. Então, conheci um pouquinho de cada commodity. 

De três em três meses eu ia rotacionando, o que, para mim, isso foi um aprendizado absurdo, porque eu conseguia aprender realmente uns sete commodities diferentes, na realidade de uma fábrica que é de emergência, de urgência, de criticidade muito grande

Assim eu consegui dar um pulo bem grande de acúmulo de conhecimento no processo de compras, na interação com fornecedores, com stakeholders. Então, para mim, para minha carreira, foi um passo muito importante. 

Fiquei lá um ano e meio, mais ou menos. Eu estava me formando e recebi a proposta de me tornar especialista em compras na mesma empresa, só que em time diferente, que eu já havia tido interação, já tinha trabalhado junto. 

Me chamaram, eu comecei — acho que foi em 2021, se eu não me engano, ou 2020 — como especialista de compras estratégicas, foi aí que eu caí nesse time.

Eu tive a oportunidade de liderar um site, então saí do foco da commodity. Trabalhei um pouquinho com o site, a operação inteira estava na minha mão. Foi uma responsabilidade diferente também que eu pude aprender, ter um contato maior com lideranças, uma exposição maior com CFO, CEOs da vida. Foi outro aprendizado que somou bastante no que eu já tinha acumulado. 

A liderança do programa de diversidade de fornecedores

Fiquei dois anos na posição e recebi o chamado para liderar o programa de diversidade de fornecedores, que foi para mim o auge da carreira, porque realmente juntou compras, que eu acabei descobrindo ser uma paixão, com a diversidade e a inclusão que também são paixões pessoais, e me permitiu trazer um pouquinho dos meus valores pessoais para o meu dia a dia de trabalho. 

Estou nesse time ainda, e em 2022, recebi uma proposta de ser líder de compras e, agora, estou como gestora de commodity de facility em compras estratégicas, e ainda full time responsável pelo programa de diversidade de fornecedores.

Basicamente um resumo sobre mim. 

Quais foram os principais aprendizados em compras e procurement?

Leo

Você fez aquela escalada tradicional, não é? Começou como estagiária, deu uma "circulada", acabou sendo efetiva, depois fui galgando mais responsabilidade e mais coisas dentro desse universo de compras e procurement

E, claramente, não foi algo tão intencional. Você até começou estagiando com RH, uma pegada bem diferente e, pelo que entendi, até olhando seu LinkedIn, a Baker foi sua grande primeira experiência na área de compras também.

Eu queria entender, para você, dessa escola de procurement da Baker, o que é que foi, talvez, a principal característica, ou o principal aprendizado que te marcou nesses quase  cinco anos no total que você por lá?

Giovanna

Estou fechando cinco anos agora. Cara, foi exatamente isso, Leo. Assim, não foi algo premeditado, eu nunca tinha ouvido falar em compras. Quando eu me apliquei para a vaga, não sabia o que que era. Foi aquele Google assim: o que é compras, o que faz, bem básico mesmo para participar da entrevista.

Acho que, como todo comprador, quando a gente fica é porque gostamos, nos apaixonamos. A dinâmica da área, para mim, se encaixou muito com a minha personalidade, com meu jeito realmente de ser. 

Essa questão de a gente se comunicar com stakeholders, com fornecedor, com times internos, acho que é algo que, para mim, valorizo bastante. Essa questão da comunicação, de conhecer pessoas, lidar com elas o tempo inteiro e ter que tentar achar o consenso entre uma solicitação e entre o que o fornecedor pode ofertar para você.

Essa gestão de soluções de problemas, de resolução, é algo que encaixou bastante assim na profissão. 

A Baker realmente foi a minha maior casa, meu maior aprendizado. Eu fiquei três meses na outra empresa, então tudo que aprendi, tudo que acumulei de bagagem, foi na Baker Hughes mesmo. 

A importância do networking em compras

Eu saliento dois pontos que não são nem de conteúdo, mas creio que são de trajeto profissional. A primeira questão, bem rápida, seria a importância do networking

Todo mundo fala sobre isso, só que quando você é comprador, sabe que está exposto em uma linha de frente de problema. Você tem que atender uma demanda interna e tem que também entender que seu fornecedor tem um timing dele, tem a necessidade dele para cumprir com aquilo que você está solicitando. 

Então você tem que ter um jogo de cintura absurdo, tem que conhecer as pessoas, tem que ser claro com elas e demonstrar que está ouvindo.

Acredito que essa postura profissional de você conseguir se comunicar com clareza, objetividade, mas também entregar a eficiência, é o que te faz ser um profissional dentro de compras respeitável. 

Acho que isso, para mim, fez muita diferença: entender e me comunicar com muitas pessoas diferentes, compreender a dor delas.

 "Olha, meu processo aqui não está chegando porque compras demorou 30 dias". Eu vou olhar para aquela dor e tentar entender porque estou demorando esse tempo e se eu não posso fazer em quinze, e também compartilhar o porquê que eu não posso e chegar ao meio termo, entendeu? 

Creio que o networking, a comunicação e essa clareza, para mim, foram aprendizados muito importantes. 

A necessidade da construção de um perfil profissional

Um segundo ponto que queria trazer — que é uma coisa que acho muito pessoal minha, e talvez alguns se identifiquem — é que eu tive uma oportunidade muito legal na Baker de, desde o início, quando comecei como estagiária, de construir, de passar por um processo da definição do perfil profissional que eu ia assumir.

Porque eu digo isso? Quando começamos a vida profissional, vamos amadurecendo, assumindo um estilo profissional, bem ou mal. Uma forma de falar, de se relacionar, de se portar etc.

Como compras, você tem algumas questões muito técnicas. Por exemplo, tem habilidade de negociação? Então você tem que ter estilos de negociação diferentes para poder lidar com contatos, com situações críticas diferentes — a circunstância dita muito

Eu lembro que, no meu início, acompanhava compradores diferentes em negociações diferentes. Via vários estilos de negociação, de comportamento, de fala, de entonação. Ficava meio que tentando aprender um pouquinho de cada um, de qual estratégia utilizavam, quais comportamentos usavam.

Mas uma coisa que coloquei como prioridade para mim foi como ia fazer isso: ter essas diversas formas de comunicar de acordo com a circunstância, como ela pediu, mas sem perder minha essência, aquilo que era caro para mim, da minha personalidade.

Porque vi pessoas também que acabavam entrando na rotina do trabalho, do estresse e que reproduziam apenas isso e o discurso, e acabavam se perdendo.

Uma coisa que consegui ao longo desses anos, e que eu me coloquei, foi um esforço bacana de manter um estilo profissional. Obviamente, atendendo à demanda da minha empresa, os interesses da companhia, mas sem perder a essência do pessoal, de quem é a Giovanna, da forma de me comunicar, mesmo que tenha uma gentileza na forma de falar, sem ir contra as minhas metas da empresa, sabe? 

Então isso foi um desafio para mim e algo que, hoje, sou feliz de falar, que olho para trás e consegui conquistar e faz muito da profissional que eu sou atualmente. 

Por que ter autenticidade nas negociações em compras?

Leo

Poxa, que máximo! Se eu puder resumir, acho que você acabou listando dois pontos interessantes: você falou do networking como um desses grandes aprendizados que você teve, e o segundo foi trabalhar a técnica, entender o que a empresa quer de você, mas sem perder na essência a sua personalidade, e trazer o que você é não é para dentro daquela função.

A técnica, ou a negociação, não significa que você não vai trazer sua personalidade, seu próprio estilo, porque se fala muito em autenticidade, no final das contas, ter que continuar sendo autêntico.

Acho que isso é bem legal, acredito muito nisso para vendas também. Acredito que estejam, talvez, em lados opostos do balcão, mas acho que a lógica é a mesma: autenticidade para negociação. No final das contas, estamos lidando com pessoas. 

Por mais que sejam empresas negociando, têm pessoas, têm interesses do lado da mesa e você precisa se colocar no lugar delas. Sem autenticidade é muito difícil fazer isso de maneira legal, sem que você passe um certo espírito de robô, de algo que você está só "scriptando", colocando em um roteirinho e falando o que está escrito já no papel. 

Giovanna

Cara, exatamente, acho que essa é a palavra, você acertou em cheio. Porque isso deixa a gente infeliz no nosso trabalho. Acabamos virando algo que deixa de ser a gente. E passamos quanto tempo, quantos por cento da nossa rotina trabalhando? Acho que essa união é um equilíbrio bacana. 

Como criar um programa de diversidade de fornecedores do zero?

Leo

Concordo 100%. Muita gente acredita que dá para manter isso por um prazo indefinido, mas a conta chega rápido, em curto prazo, viver nessa dissonância, então concordo totalmente. 

Até daí eu queria puxar um gancho de uma coisa que você falou, que hoje acumula funções como gestora de commodities, também como líder do programa de diversidade de fornecedores que você, inclusive, falou que foi onde mais se encontrou, foi a coisa mais legal que tocou na carreira, ou talvez o ponto alto, como você mesma disse.

E eu queria entender um pouco mais sobre como foi essa experiência. Foi um projeto piloto da Baker Hughes aqui no Brasil? Queria entender como é que começou isso. Foi ideia sua? O pessoal chegou com a missão para você? Será que estava no seu radar? Teve obstáculo? Foi fácil?

Me conta mais, até para o pessoal entender o que é que realmente foi tocar esse projeto aqui. 

Giovanna

Maravilha, pode deixar. Bom, foi uma surpresa positiva, como eu falei. A Baker já tem um projeto de programa de diversidade nos Estados Unidos — acho que como a maioria das outras empresas de lá que já têm essa realidade superforte — e eles haviam decidido fazer um projeto piloto e expandir para outro país. 

Quando recebemos a notícia, começaram a analisar a região da América Latina e eu, prontamente, levantei a mãozinha, do tipo: "Quero esse desafio para mim. Confia em mim. Me dá, por favor".  

Minha gestora fechou comigo, ela é muito parceira nesses quesitos, e falou: "Olha, vou indicar de você e vamos ver". O gestor do gestor aprovou e eu recebi a notícia no final de dezembro, logo entrando no Natal de 2020.

1. Entender o que é uma programa de diversidade de fornecedores

Então em 2021, a primeira coisa que comecei a focar foi entender o que era, porque eu nunca tinha ouvido falar, assim como a maioria das pessoas. 

Eu tinha um contato nos Estados Unidos para me ajudar um pouquinho a compreender a realidade, me contar o que que era, como foi definido, o que eles faziam lá, e eu comecei a tentar adaptar para a realidade daqui. 

2. Identificar as barreiras

Só que quando eu comecei a investigar o mercado brasileiro, encontrei muitas e muitas barreiras que não eram a realidade deles nos Estados Unidos. 

Primeiro que nenhum mercado sabia direito o que eram as definições, quais eram as categorias de fornecedores diversos, quem define. Tinham os certificadores principais, mas ainda em formação — na época, eu estava falando com o Ricardo da Câmara LGBT, eles estavam estruturando o programa ainda, não existia. Então era tudo muito incipiente. 

Foram meses, acho que uns seis, de pura investigação, benchmarking para caramba. Várias empresas parceiras me ajudaram, fiz muitas amizades também. Conheci muitos compradores que passaram pela mesma coisa e fui anotando, aprendendo, participando de chamadas, enfim, e reuni em um conhecimento, comecei realmente a me especializar no tema. 

Li documentos acadêmicos também para poder, realmente, entender um pouquinho melhor e conseguir chegar no projeto piloto da Baker Hughes. 

3. Definir categorias de fornecedores diversos e apresentá-las

Daí eu defini quais seriam as categorias que a Baker entenderia como válidas naquele momento, que aceitaríamos como certificado. Fiz as parcerias com certificadoras, todo aquele passo 1,2, 3, o beabá do processo. 

Basicamente levou um ano para conseguirmos consolidar esse programa e começar a fazer apresentações para as lideranças, porque entendemos que, antes de mais nada, precisávamos explicar para Baker, em si, o que era o programa

A gente tem esses exercícios. Então foi um processo bom, mas muito desafiador, porque realmente eu tive a liberdade de construir algo com a minha ideia, definir estruturas que não existiam. 

Eu disse que ia ser assim, aprovaram e disseram que estava bacana e funcionou, e foi difícil porque foi teste e erro. 

4. Acompanhar a evolução do programa de diversidade

Não temos certeza se tudo vai dar certo, então a gente foi consertando as coisas que não estavam tão eficientes, seguindo com o que estava funcionando. 

O benchmarking continua 100%, está rodando assim, a gente está bem empolgado com alguns resultados que estão por vir, inclusive, com Linkana.

Mas o programa já tem cara, já tem estrutura, já está sólido, então foi um desafio aí concluídos, técnica concluída. Agora estamos esperando o que virá.

Quais os principais obstáculos na construção de um programa de diversidade de fornecedores?

Leo

Você falou um pouco dessas dificuldades, até do próprio desconhecimento da matéria, uma coisa muito nova para você. Acredito que isso, no Brasil, ainda é uma realidade muito comum, principalmente no cenário de compras.

O que você diria que foi, talvez, o principal obstáculo? O que foi, de fato, ou ainda é, a maior barreira para um programa de diversidade de fornecedores no Brasil rodar se alguém estiver começando um agora, em 2023, diferentemente de você, que já fez isso a alguns anos.

O que é você ainda imagina que essa pessoa vai sofrer muito, diferentemente de alguém fazendo isso nos Estados Unidos, por exemplo?

Giovanna

Dificuldade de transformar teoria em prática e falta de sistemas apropriados

Apesar do esgotamento de conversarmos sobre isso, ver em fóruns, em palestras, acho que muitos ainda recaem na mesma dificuldade que é transformar teoria em prática

Você demora um tempo para entender a teoria, tem o tempo do aprendizado, para entender tudo o que está por trás da definição daquele programa. E aí, beleza, agora estou confortável. Vou fazer aqui, dá certo, está ótimo! 

Só que na hora que você vai transformar aquela teoria toda em prática, começa a encontrar as principais barreiras — creio que a número um sempre vai ser sistema

Temos N empresas que sofrem com a mesma coisa de não ter uma base de dados de fornecedores limpa, atualizada com e-mail, com razão social certa. 

Tem N ERPs. Por exemplo, na minha situação eu tinha cinco ERPs diferentes para puxar a base de dados. Não tinha uma equipe local, tive que explicar para externa o que eu precisava fazer. Nisso você já perde uns dois, três meses até conseguir uma base realmente limpa. 

Depois você não tem e-mail, tem que fazer um teste de força manual para poder colocar o endereço eletrônico daquele fornecedor ali. 

Então eu acho que a primeira dificuldade é a qualidade da sua base de dados e na base de fornecedores

Problemas para inserir o programa de diversidade na rotina dos compradores

A segunda dificuldade para mim, acho que é como inserir o programa na prática, na rotina de um comprador

Como você vai fazer para que os compradores se comprometam e estejam 100% de acordo, entendendo como aquilo funciona e começarem a te apoiar, a incluir fornecedores diversos nas cotações se não têm um manual, por exemplo, se a política da empresa ainda não menciona aquilo.

Você começa a identificar os gargalos: "Poxa, será que eu preciso fazer uma política de fornecedores diversos para incluir na minha política de sourcing?" Pode ser uma alternativa. 

Será que preciso criar uma política que consiga estar junto com minha prioridade por saving? Até que ponto posso considerar uma cotação diversa prioritária, uma que seja mais barata que outra, que tem um custo-benefício melhor?

Então você começa assim a se deparar com desafios de como materializar isso na rotina do comprador. 

Vou fazer um RFQ, o que eu faço? Como é que eu sei onde estão os compradores, fornecedores diversos? Onde eu procuro? 

Acredito que essa parte de criar uma rotina acaba dependendo de qual empresa você está, então é uma coisa que será realmente muito variável. Você pode ver vários casos que funcionam, mas depende do processo de compras daquela empresa, dos sistemas que têm, das parcerias que fez. 

Acredito que, realmente, isso varia muito e você terá que criar uma organização, porque, se não, ficará sem padrão para passar para os seus compradores e sem confiabilidade para que eles saibam que aquele processo é seguro, válido e que vale a pena eles colocarem um esforço deles. 

Tempo de compreensão do mercado brasileiro

Por último, outra dificuldade que é bem geral, é o tempo que o mercado brasileiro ainda demorará para massificar a conscientização de que isso existe

Porque ainda falamos — falei isso acho que semana passada com duas empresárias que são líderes e donas de um negócio com o qual estou fechando um contrato — eu fiz aquele screening inicial e elas nunca tinham ouvido falar. 

Então a empolgação de você ver a pessoa "Caramba, isso pode me massificar oportunidades?", realmente acredito que o mercado ainda está muito desconhecido. 

Apesar de ter fóruns e fóruns, de quando nos inserimos nesse mundo começamos a receber muita informação e parece que todo mundo recebe essa mesma, só que não. A gente ainda tem metade do mundo que não tem ideia do Brasil, que não tem ideia de que isso existe. 

Esse pilar é a terceira dificuldade para mim. As empresas vão ter que, conjuntamente, conseguir conscientizar e alcançar cada vez mais fornecedores para que eles saibam que esse programa exige que esse ele pode trazer oportunidades. 

Como enfrentar a atual era de incertezas para implementar esse programa?

Leo

Poxa, concordo muito com isso. Acho que você tocou em um ponto fundamental, que é a questão de, antes de tudo, para transformar a teoria em prática, as pessoas precisam conhecer que isso existe. Tanto do lado de compras quanto do de fornecedores, essa realidade ainda não é massificada no Brasil, usando suas palavras.

Ainda tem um trabalho muito grande de educar o mercado, até tecnicamente sobre o que é um fornecedor diverso. Muita gente confunde com conceitos do próprio RH, que são ligados muito mais à contratação e não à propriedade de empresas, que é o conceito mais aceito que veio lá dos Estados Unidos.

Acredito que um dos outros desafios, que quero explorar contigo, é sobre transformar teoria em prática em relação a como é que você concilia essas agendas. Vou pegar aqui o seu exemplo, colocar você na fogueira. 

Estamos falando de uma compradora, gestora de commodity e facilite, ou seja, categorias relevantes, críticas para operação da empresa. Então você já tem um trabalho que puxa para caramba. 

Agora estamos falando de um ano de crise, inflacionária, de combustíveis, de guerra, Europa, Estados Unidos. Então tem um bocado de incerteza e você precisa conciliar essa agenda com temas de diversidade e inclusão. 

Como é que Giovanna, pessoalmente, lida com isso? Como é que a Baker, empresa, tem lidado com isso? Está o caos? Essa agenda está perdendo prioridade? Como vocês estão enfrentando essa era de incertezas que estamos vivendo nos últimos anos?

Giovanna

Léo, você tocou, realmente no ponto sensível. Vou dizer que essa é a minha maior dificuldade de todas. De todas as que eu listei, acho que a que mais pesa é não ter duas jornadas de trabalho, se eu pudesse, para trabalhar em uma com facilities e em outra com diversidade de fornecedores. 

Eu brinco com a minha chefe que eu gostaria de trabalhar só para isso, mas acho que essa também não é a realidade da maior parte dos compradores. No Brasil ainda temos o comprador fazendo as duas coisas. 

Ou é um comprador de sites, de plantas, que também tem uma rotina muito puxada, ou é um líder de time de compras que também é concilia com o programa

Vou falar sobre o Brasil, porque nos Estados Unidos a realidade já é outra. Lá, pelo menos na Baker e o que eu vejo em outras companhias é, você tem pessoas diferentes para realizar as funções. 

Por exemplo, na Baker tenho um time lá de duas, três pessoas que são dedicadas à diversidade de fornecedores. Aqueles três recursos têm 100% da carga horária deles dedicada para melhorar o programa, fortalecer, expandir, investir em comunicação, marketing etc. 

No Brasil, como é uma iniciativa nova — e, bem ou mal, ainda não estamos no foco, ainda não estamos com algumas medidas que vão aumentar a celeridade no mercado para poder implementar isso mais rápido — acredito que ainda teremos muitas empresas que têm um profissional só fazendo as mesmas coisas. 

Construindo um time de diversidade de fornecedores

Como eu faço? Passei um ano só "ralando", buscando todas as horas que eu podia para poder investir no programa. Mas chegou no final do ano eu olhei e falei: "Caramba, eu tinha milhões e milhões de ideias e prioridades que queria fazer e não consegui porque não tive tempo suficiente. Só que eu quero fazer, vou ter que dar um jeito de fazer isso aqui. Como é que eu vou fazer?"

Foi aí que tive a ideia, no final do ano passado, de propor para os meus gestores, para minha equipe, de fazer um time de diversidade de fornecedores. Então fizemos. 

Comecei a pensar, apresentei um draft do que eu imaginava. Pensei em um time que não fosse só de compradores. Pensei em um time que tivesse pessoas de vendas, de RH, de  comunicação, de compras. 

Chamei pessoas que se interessavam, que também tinham vínculos pessoais com o tema, que acreditavam na causa, porque acho que a paixão faz toda a diferença, e montamos uma equipe. 

Apresentei o que era, fiz várias apresentações de treinamento, treinei o pessoal e os dividi em células. Então tenho uma célula de comunicação, uma de processos, uma de compras, e não, necessariamente, na compra estão só os compradores. 

Eu realmente consegui misturar as pessoas de acordo com as funções e com as atividades que cada célula precisa. Tem até uma célula em que está se formando ainda, mas ainda está incipiente. 

Dificuldades e resultados alcançados

A que mais está rodando, por enquanto, é a de comunicação, e está sendo ótimo. Porque tenho, mais ou menos, 15 pessoas que trabalham comigo e estamos fazendo reuniões semanais, quinzenais, e eu consigo delegar, compartilhar ações, trabalho e carga de trabalho com outras pessoas, e conseguimos maximizar o resultado. 

Foi um sacrifício que tive de tempo também, porque para montar tudo isso, idealizar esse meio, tem que depositar uma quantidade de tempo grande, uma dedicação. Ainda estou construindo, marcando as reuniões deste ano. 

Mas creio que é uma ação que vai se justificar em médio e longo prazo, porque terei pessoas com a mesma informação que eu, que estarão alinhadas com a estratégia que definimos para o ano e que poderão compartilhar comigo a carga de trabalho.

Juntos conseguiremos, com certeza, maximizar o resultado tendo mais mãos envolvidas, entendeu? Isso foi, para mim, a solução que achei e que, por enquanto, está funcionando bem legal. Estou gostando do resultado e do progresso que isso está tendo.

Quem é a compradora do futuro?

Leo

Que massa! Para essas iniciativas desenrolarem e acelerarem, o que a gente também puder fazer aqui pelo lado da Linkana para ajudar, com certeza, conta com a gente, porque estamos nessa jornada há alguns bons meses, quase mais de anos juntos, não é? 

Então vamos fazer esse negócio acelerar aqui no Brasil, que eu concordo contigo, ainda temos um longo caminho pela frente, se comparado a outros países, mas eu sinto que começou a virar já essa chave, começou a aparecer. 

Temos visto muitas iniciativas surgindo, e vejo que esse futuro está cada vez menos futuro e mais presente, mas ainda precisa realmente de muito trabalho. 

E falando em futuro, Giovanna, estamos chegando ao final da nossa conversa. E você falou muito sobre essas iniciativas e coisas diferentes, ideias que você tem trazido e proposto ao que você quer ainda fazer na sua jornada na Baker, nessa sua própria jornada dentro de compras e procurement. 

Queria ouvir de você, considerando todo seu aprendizado e o que você absorveu nesses últimos cinco anos em compras, conta para mim, Giovanna, quem para você é a compradora do futuro?

Giovanna

A pergunta do milhão! Olha, tem muita coisa que eu gostaria de trazer, mas vou focar em três palavras que farão, para mim, a compradora do futuro. 

Organização

Eu não me desvencilho da organização, independentemente de presente, passado ou futuro. Acho que a organização é chave para conseguirmos, especialmente em uma rotina de compras, conciliar tudo o que precisamos e entregar da melhor forma possível.

A organização, para mim, anda ao meu lado. Às vezes, dentro da minha organização ainda sou desorganizada, mas eu tento não sair disso, porque acredito que isso fala com a segunda palavra que usarei, que é o autocuidado

Autocuidado

Acho que o comprador do futuro está exposto a muitas informações, há muitos conhecimentos, queremos fazer tudo ao mesmo tempo. Se não pararmos, continuamos tendo trabalho contínuo — 24 horas por dia eu tenho coisas para fazer.

Então acredito que a organização tem que estar presente de toda maneira para você poder conciliar novos aprendizados, estudos, o seu trabalho diário, coisas que você quer fazer novas, sua vida pessoal.

Creio que a organização é o pilar principal, o autocuidado como se fosse uma saúde mental, um equilíbrio ou algo assim

Porque se deixarmos entrar nessa rotina, nos descuidamos, priorizamos outras coisas e acho que a prioridade tem que ser a gente. 

Essa ideia do time, por exemplo, veio muito disso. Percebi que estava colocando mais horas do que deveria, mesmo que o objetivo fosse nobre, fosse importante para mim. E eu descobri uma saída para conseguir preservar minha saúde, mas também entregar o meu objetivo e chegar aonde eu quero. 

Isso acaba tendo que ser uma prioridade, de esse comprador do futuro conseguir estar bem de saúde para conseguir realizar as ações e os objetivos que ele quer. 

Paixão

E, por último, acho que vem a paixão. Porque você está no mundo de compras, em um mundo de diversidade de fornecedores, então você é mobilizado por acreditar e por estar apaixonado por aquilo. 

Tem pessoas que não, necessariamente, amam a área, mas fica muito mais fácil, muito mais prazeroso quando você realmente — mesmo que seja um pedaço do seu trabalho, um projeto ou uma interação, alguma coisa — tem aquela paixão por aquilo. Acho que fica tudo mais leve, sabe? 

Até mesmo para você, por exemplo, querer continuar se profissionalizando, continuar aprendendo e acompanhando as novas tendências, as novas ferramentas, tem que ter aquela vontade interna, aquele fogo de aprender, de continuar entregando e continuar se desenvolvendo nessa carreira.

Essas três palavrinhas, para mim, dão uma direcionada boa no que até planejo para mim, que vislumbro para os próximos anos. Vou precisar muito delas para poder chegar ao meu objetivo. 

Leo

Boa! Então, resumindo: organização, autocuidado e paixão resumem para Giovanna quem é a compradora do futuro. Adorei! Muito bom!

Poxa, foi muito massa essa conversa. Foi bem legal conhecer você mais. Já tínhamos conversado várias vezes, mas nunca tinha ouvido você falar com tanto detalhe da sua história e de algumas coisas da sua trajetória profissional. 

Curti bastante, pena que acabou rápido. Essas conversas sempre voam. Então queria, mais uma vez, agradecer por você ter aceitado nosso convite. 

Para finalizar, como é que faz para o pessoal entrar em contato contigo? Fazer aquele networking que você citou lá no início. Qual a melhor forma de falar com você, trocar experiências, ideias?

Giovanna

Maravilha, Leo! Foi um prazer enorme conversar contigo. Muito boa essa dinâmica de poder compartilhar um pouquinho da minha história. Portas abertas para o pessoal.

Acho que a melhor forma realmente de contato, para mim, é o LinkedIn para trocar ideias, conversar um pouco mais, marcar um bate-papo. Ficou extremamente disponível. 

Leo

Show de bola. Então, fechadíssimo, Giovanna! Mais uma vez, valeu, pessoal, até o próximo episódio!

Mais uma conversa massa. Obrigado por ter escutado. Se você gostou, não esqueça de seguir o nosso podcast. 

Se quiser saber mais sobre a Linkana, acesse o nosso site e siga nossas páginas no LinkedIn, Instagram e YouTube. Eu sou Leo Cavalcanti, CEO da Linkana.

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