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O que é e qual a importância do profissional ESG do futuro?

Escrito por Leo Cavalcanti

Escrito por Leo Cavalcanti

Escrito por Leo Cavalcanti

11 de setembro de 2023

11 de setembro de 2023

11 de setembro de 2023

No 20° episódio do podcast Procurement Hero, Leo Cavalcanti, CEO e cofundador da Linkana, conversou com Fábio Simabukuro sobre a importância do profissional ESG do futuro.

Fabio Simabukuro tem 13 anos de experiência em ESG, é formado em Gestão Ambiental pela renomada USP e, atualmente, é Head de ESG & Risco Social, Ambiental e Climático na XP Inc.

Começando como estagiário na área de sustentabilidade do banco BV, Fábio mergulhou de cabeça em diferentes áreas, como crédito comercial, encontrando formas inovadoras de implementar a cartilha de sustentabilidade em todos os setores do banco. 

Seu projeto de risco socioambiental foi um sucesso contínuo, elevando-o de estagiário a coordenador de risco socioambiental ao longo de sua trajetória no BV. 

Em 2020, Fábio recebeu um convite para liderar a área de risco socioambiental na XP, onde continua seu trabalho pioneiro até hoje.

Neste episódio, ele compartilha experiências e insights sobre a importância do profissional ESG do futuro. 

Além disso, destaca a necessidade de resiliência para lidar com questões sociais, ambientais e climáticas, bem como a habilidade para inserir a agenda ESG ao núcleo de negócio, sem perder sua relevância. 

Prepare-se para uma conversa inspiradora e repleta de conhecimentos valiosos com nosso convidado especial, Fábio Simabukuro.

https://open.spotify.com/episode/0AAoZ6QQRQ1aKG7Qv85ElS?si=kW-ckhcFTTegOYhZILM-xQ

Conhecendo a trajetória de profissional ESG de Fábio Simabukuro

Leo Cavalcanti

Fábio, meu querido Fábio! Essa conversa aqui foi um sofrimento para acontecer! Vou chamar só de Fábio, porque eu não vou me arriscar no sobrenome. 

Brincadeiras à parte, primeiro quero agradecer demais sua presença. Sei que a agenda é curta, mas é um prazer ter você aqui no podcast para um episódio bem especial e diferente. 

Fábio Simabukuro

Fala, Leo! Tudo bem? O prazer é meu de ter, aqui, a oportunidade de falar um pouquinho mais sobre minha trajetória, sobre o tema ESG, de risco social, ambiental e climático. E é um prazer estar contribuindo um pouco em relação ao tema. 

Sobre a dificuldade da agenda, eu peço desculpas. Foi difícil encontrarmos uma janela por aqui, mas, finalmente, deu certo. Espero que valha a pena a espera. 

Leo

Com certeza! Tenho certeza que vai, até porque você é um profissional ESG diferente. Porque a maioria das pessoas que eu conheço começou agora, estão se interessando no tema e você tem o que, mais de 10,12, 13 anos que está envolvido com sustentabilidade, risco climático, compliance de maneira geral.

Então, conte como foi essa trajetória profissional. Hoje, você lidera essa frente dentro da XP, não é? Conte como é que foi esses anos militando em algo que está bem mais quente agora do que estava em 2010, quando você começou lá atrás.

Fábio

Formação acadêmica em gestão ambiental

Confesso que tenho uma trajetória um pouco diferente. Eu acho que desde a minha formação, olhando para a parte de graduação, formação acadêmica e até pela trajetória profissional.

Como você falou, eu trabalho no mercado financeiro há 13 anos. Sempre trabalhei nesse mercado. E eu tive uma trajetória um pouco diferente. 

Se olhar para a formação de uma pessoa que trabalha no mercado financeiro, a grande maioria dos profissionais são das áreas mais tradicionais de engenharia, administração, marketing, enfim, tem várias formações dos profissionais que são do mercado financeiro.

Eu confesso que tenho uma formação bastante diferente. Na XP, devo ser o único gestor ambiental de formação. Desde o início da minha trajetória acadêmica, sempre gostei do tema mais relacionado às questões sociais e ambientais. 

Por formação, fiz gestão ambiental na Universidade de São Paulo. Lá em 2008, acabei descobrindo o curso. Na época, estavam começando a falar sobre a questão das mudanças climáticas e me interessei bastante no assunto. 

Foi por meio desse tema específico, de mudanças climáticas, que acabei escolhendo fazer essa graduação de gestão ambiental na Universidade de São Paulo. 

Estágio no banco BV

Em 2010, ainda estava na graduação, surgiu uma oportunidade de estágio na recém-criada área de sustentabilidade do banco BV — na ocasião, era banco Votorantim. 

Eles estavam criando uma gerência de sustentabilidade para iniciar esses assuntos no banco e surgiu essa oportunidade de integrar o time. 

Digo que minha trajetória profissional foi um pouquinho diferente da grande maioria das pessoas do mercado financeiro, primeiro pela minha especificidade nessa graduação, em gestão ambiental

Segundo, porque minha trajetória começou em um banco médio, em 2010, onde o assunto não era tão falado dentro do mercado financeiro. 

Então, quando cheguei ali, em 2010, na instituição financeira a área era duas pessoas — um gerente e um analista — e tive essa oportunidade de começar como estagiário. 

A grande vantagem que eu tive ali, por começar em uma instituição financeira de porte médio, e em um tema que não era tão difundido assim no mercado financeiro, foi a oportunidade de ter contato com tudo. 

Em três meses estagiando naquela instituição financeira, tive a chance de rodar em todas as áreas do banco. Passei pelas áreas de crédito, comercial, riscos, fui rodando todas as áreas do banco justamente para entender um pouco do que fazia uma instituição financeira e o que era seu core.

Projetos desenvolvidos no banco BV

A oportunidade que tive no Banco BV, no início, foi desenvolver um projeto para incorporar esse tema na área de risco de crédito e na área comercial

E o projeto que desenvolvi foi a estruturação de uma área de risco socioambiental na época. Então, apresentamos as principais atividades dessa área e o projeto foi para a diretoria, vice-presidência e presidência da instituição. 

Eles entenderam que seria importante tocar o projeto e, com menos de um ano na área de sustentabilidade do BV, fui efetivado antes de terminar minha graduação na Universidade de São Paulo. 

Eles me migraram, me tiraram da área de sustentabilidade e me colocaram, especificamente, na de riscos para tocar esse projeto que era de risco social, ambiental e climático do banco BV. 

Comecei no banco BV como estagiário desse projeto, fiquei sete anos tocando e fui trilhando o início da minha carreira, de estagiário a analista, de analista a analista pleno, a analista sênior e fui até coordenador daquela área. 

O resultado do projeto no banco BV

Depois de sete anos e várias evoluções no BV em relação ao tema, conseguimos estruturar a área, desenvolver um processo de análise de risco socioambiental dentro do de concessão de crédito. Ou seja, toda empresa que fosse pleitear crédito passava por um processo de análise de risco socioambiental do nosso time.

Desenvolvi uma metodologia de geração de rating social, ambiental e climático, e a incorporação desse rating, também impactando no de crédito. 

No final de 2016, 2017, um dos grandes projetos que toquei foi tornar o banco BV um signatário dos Princípios do Equador. Na época, só os quatro, cinco principais bancos do Brasil eram signatários deste protocolo específico que era super importante do ponto de vista de risco socioambiental e climático.

Proposta de trabalho para o banco ABC Brasil

Após sete anos, recebi uma proposta para ir para outra instituição financeira, já em 2017, também para desenvolver, estruturar uma área de risco social, ambiental e climático, em um banco médio também, que não tinha essa área desenvolvida até o momento. 

Por força regulatória — que, em 2014, já tinha norma que obrigava as instituições financeiras a olhar para esse tema —  achei que seria uma oportunidade importante também para eu conseguir estruturar essa área em outra empresa do mesmo setor.

Fiquei três anos no banco ABC Brasil, que é um banco de porte médio e atende, principalmente, empresas de middle, corporate e large corporate, além de operações de mercado de capitais. 

Nesses três anos, foi uma trajetória bastante legal. Conseguimos desenvolver a área e todos os processos de análise, as metodologias de rating e as políticas. 

Após esse tempo no banco ABC Brasil, acabei incorporando também algumas outras áreas. Foi bastante legal tocar também em outros assuntos de risco. Acabei conhecendo risco de crédito e o risco integrado.

Chegada na XP

Em seguida, recebi a proposta para fazer a mesma coisa na XP: estruturar uma área de risco social, ambiental e climático nessa empresa. 

Em 2020, a XP tinha acabado de receber a licença para virar banco também, então, viram a necessidade de estruturar essa área.

Desde essa época, estamos nessa evolução na XP, avançando, cada vez mais, no gerenciamento do risco social, ambiental e climático.

Essa foi um pouco da minha trajetória profissional, olhando para as instituições financeiras. 

E, olhando também os desafios que tive no dia a dia, como comentei com você, minha formação em gestão ambiental e trabalhando tanto tempo em instituição financeira, acabei me especializando em outros temas — muito mais voltados para o aspecto financeiro e para a gestão de riscos — para conseguir conciliar toda minha parte técnica da área ambiental, social e climática, com a rotina de uma instituição financeira dos riscos mais tradicionais e aspectos financeiros.


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A preocupação com a adoção de uma agenda ESG é real?

Leo

Isso traz alguns pontos interessantes. Como você falou: trilhou uma carreira voltada para riscos climáticos e socioambientais, dentro do mercado financeiro. Isso, realmente, é uma trajetória bem diferente. 

E você mesmo já usou a palavra: esse tema não estava tão difundido ali, de quando eu comecei a ver isso em 2010.

Aparentemente — acho que até por conta das regulações, Fábio —,  o setor financeiro se antecipou a muitas coisas que estamos vendo no mercado, de uma maneira mais popular agora, talvez na mídia mais tradicional.

Porém, eu queria ouvir um pouco da sua opinião em relação a esse ponto. Poxa, você vem dessa jornada louca — principalmente envolvido no setor financeiro — mas, agora, parece que o tema não está mais restrito só às regulações ou se preocupar porque, com o setor regulado, preciso me preocupar. 

Parece que essa agenda agora é protagonista, está na mídia, parece que está todo mundo preocupado com ESG, que tem que monitorar risco socioambiental. 

Isso, de fato, está se tornando uma realidade, ou está mais um algo meio que "da boca para fora", que o pessoal chama de greenwashing? Você realmente vê uma mudança grande nos últimos anos ou não? 

Fábio

Eu acredito que, sim, Leo. Olhando para todo o histórico dessa agenda, principalmente para o mercado financeiro — apesar de ser um tema que está bastante na mídia nesses últimos anos — não é um tema tão novo assim. 

Se a gente for ver um pouco de histórico, desde 1992, dentro do mercado financeiro, já discutimos questões sociais, especialmente sociais e ambientais no âmbito desse setor. 

Se voltarmos um pouco lá em 1992, houve o lançamento da primeira declaração internacional para bancos e meio ambiente, da Unep-FI

Acho que todo mundo lembra do "Rio 92", que teve aqui no Brasil para discutir as questões ambientais e sociais. Nessa conferência foi lançada essa primeira declaração específica para bancos.

Não era nada regulatório, era algo relacionado às boas práticas. Então, eu diria que, olhando para o Brasil, foi o primeiro movimento relacionando o tema social e ambiental para o mercado financeiro.

Naquele começo, um pouco mais timidamente esse assunto, visando esse setor e, desde aquele ano, se olharmos para uma linha do tempo para as principais iniciativas voluntárias relacionadas ao tema, dentro do mercado financeiro, vemos uma evolução bastante crescente.

Dica! Aproveite e leia também: "Como fomentar a agenda ESG na sua empresa? Dicas de um especialista!"

Evolução do tema socioambiental no mercado financeiro

Em 1995, olhando para banco público, teve o lançamento do que chamamos aqui de Protocolo Verde.

O Protocolo Verde era um protocolo de intenções, especificamente voltado para bancos públicos implementarem uma série de ações relacionadas aos temas social e ambiental na hora de conceder um recurso ligado ao governo, a fim de esses instrumentos não fomentarem questões que deteriorassem boas práticas sociais e ambientais

Mais para frente, se avançarmos um pouco, ainda sob o aspecto de mercado financeiro, desde 1999, há o Índice de Sustentabilidade Dow Jones. Lá fora, desde esse ano, a Bolsa Americana já olhava para essas questões de sustentabilidade na hora de avaliar a dar as notas para as empresas como um todo. 

Assim, se avançarmos um pouco mais após 1999, em 2003 tivemos a primeira versão dos Princípios do Equador, também uma iniciativa de várias instituições financeiras, do mundo inteiro, que colocou uma série de critérios na hora de conceder crédito para operações ligadas ao Project Finance — que são operações bem específicas para, principalmente, desenvolvimento de infraestrutura.

Seguindo nessa linha do tempo, em 2014, teve a primeira autorregulação da Febraban para o mercado financeiro, relacionada aos temas de risco social, ambiental e climático. E a primeira normativa específica do Banco Central, para esse assunto, também foi em 2014. 

Obrigatoriedade de boas práticas socioambientais

É a resolução 4.327 que obrigou todas as instituições financeiras a implementarem o processo de gerenciamento de risco social, ambiental e climático, bem como as políticas de responsabilidade social e ambiental. 

Por isso, se formos olhar um pouco em linha do tempo, como eu falei, o tema começa aqui no Brasil desde 1992 e, nos últimos anos, com certeza — diria que, principalmente, a partir de 2020, relacionados muito aos eventos da pandemia — acabou aparecendo um pouco mais na mídia. 

O mercado financeiro como um todo, mas especialmente os investidores, começaram a ver que as questões relacionadas ao social, saúde, ambiental e clima, poderiam interferir no desempenho das instituições financeiras e das empresas desse setor.

Eu diria que, de 2020 para cá, a agenda de ESG tem se tornado cada vez mais relevante no mercado financeiro e para as empresas de todos os setores, de modo geral.

Desde 1992, temos essa evolução do tema, mas, de 2020 para cá, cresceu bastante a procura sobre o assunto e as ações relacionadas a esse mercado.

Não deixe de ler: "ESG em serviços financeiros: inclua boas práticas em bancos e fintechs"

Principais diretrizes de risco para a gestão de fornecedores no mercado financeiro

Leo

Dá para ver, pelo seu comentário que, de fato, essa é uma agenda muito ampla, porque o mercado financeiro envolve questões ligadas à concessão de crédito e com quem você tem um relacionamento comercial. 

Isso gera uma série de impactos na maneira como toda a estrutura financeira é operacionalizada, e acho que você citou vários regulamentos, normativas, acordos ou tratados que foram direcionando para onde essa agenda iria dentro desse mercado mais específico.

Talvez até aprofundando, e trazendo um pouco para o hemisfério do nosso podcast, Fábio, se você fosse tentar identificar — pensando do ponto de vista de supply, de fornecedores e olhando para esse cenário regulatório — , quais seriam, talvez, as principais diretrizes ou normativas que, hoje, você se preocupa, ou tracionam o processo de Risk Management, de climalite, de sustainability, voltado para fornecedores dentro da sua realidade?

Fábio

Boa, legal! Vou dar um passo atrás, então, e começar a falar um pouco sobre regulação aqui.

Olhando sobre o aspecto regulatório do tema, para o mercado financeiro, como eu falei, a primeira normativa específica foi em 2014: o Bacen, com a resolução 4.327.

Especificamente a partir de 2020, teve uma série de iniciativas regulatórias não só do Banco Central, mas da CVM, Anbima, Susep, enfim, todos os órgãos reguladores ligados ao mercado financeiro, a partir desse ano, soltaram diversas normativas específicas relacionadas ao tema de sustentabilidade, ESG, sobretudo risco social, ambiental e climático. 

Consigo destacar que, em 2021, só o Banco Central publicou entre quatro e cinco novas normativas relacionadas ao tema. A primeira é a 4.945, que coloca uma série de obrigações para as instituições financeiras de desenvolverem políticas de responsabilidade social, ambiental e climática na companhia.

Uma obrigação bastante importante que a 4.945 traz, é que ela faz a instituição financeira olhar para todos os stakeholders do ponto de vista de qual é a responsabilidade da empresa em relação a eles quanto a esses temas.

Um dos stakeholders que uma instituição financeira tem, basicamente, além dos clientes e da sociedade como um todo, são os fornecedores. 

Assim, nas políticas das principais organizações desse setor, tem que colocar, é preciso definir qual a responsabilidade social, ambiental e climática com os fornecedores. 

Olhando para as outras normativas que o Bacen trouxe, temos a 4.943, que fala, especificamente, sobre gerenciamento de risco social, mental e climático. Nessa resolução, o Banco Central coloca a obrigação de a instituição financeira realizar todo um processo de análise e gerenciamento de risco desses temas também dos fornecedores.

Essas companhias, além de analisar os clientes e as contrapartes na hora de conceder crédito na hora, de iniciar um relacionamento com um parceiro, o regulador coloca essa obrigatoriedade.

Iniciativas regulatórias além do Banco Central

Tem uma série de iniciativas regulatórias, não só do Banco Central, mas da CVM, da Anbima, da Susep que correlacionam obrigações de risco social, ambiental e climático e também na gestão dos fornecedores das instituições financeiras. 

Este artigo também ajudará você: "Gestão de fornecedores em serviços financeiros: como garantir a segurança da empresa e dos clientes?"

Principais desafios da agenda ESG para o mercado financeiro

Leo

Você fez até um corte que, a partir de 2020, a "coisa começou a pegar fogo". Veio regulação para caramba, e acho que isso coincide também com a sua ida para liderar essas iniciativas dentro da XP. 

E eu queria falar um pouco mais sobre isso. Qual tem sido sua principal prioridade — porque você mesmo falou: "Estou aqui na XP para fazer a mesma coisa que eu fiz no banco BV, no banco ABC Brasil" — só diria que, o desafio agora, está um pouco mais complexo, não é? 

Talvez você poderia aprofundar e dizer o realmente é seu principal foco, e quais são os principais desafios e obstáculos que você está encontrando para, de fato, tornar todo o cumprimento dessas normativas uma realidade. 

Fábio

Concordo com o ponto que você trouxe: os desafios aqui na XP, comparando aos que tive no BV e no ABC Brasil são, eu diria, que muito maiores.

Se eu olhar para o banco BV, até 2014, tinha uma regulação específica para o tema de risco social, ambiental e climático. O tema não era tão forte assim, tão demandado assim, e era uma regulação simples de cumprir até aquele ano. 

Avançando no tempo, em 2020, eu já estou na XP. Se eu olhar para o Banco Central —  antes, até 2019, existia uma regulação específica sobre o tema — a partir de 2020, 2021. Só esse órgão regulador emitiu quatro, cinco novos normativos específicos, com obrigações relacionadas ao tema ESG, sustentabilidade e risco social, ambiental e climático.

Comentei com você, 4.945, que fala sobre a política de responsabilidade sobre esse tema; a 4.943, que é gerenciamento de risco socioambiental e climático. 

E tem ainda a resolução 139, que o Bacen coloca uma obrigação para as gestões financeiras divulgarem relatórios de riscos e oportunidades sociais, ambientais e climáticas, e é um relatório público. 

Isto é, tudo que eu identifico como risco e oportunidade, visando à instituição financeira, tenho que desenvolver um relatório e deixá-lo público e disponível para todos os stakeholders no site da empresa. 

Além dessa, o Bacen colocou a resolução 151, que fala sobre informações de risco social, ambiental e climático — aqui, chamamos esse documento, internamente, de DRSAC. 

E qual é a obrigação da instituição financeira no cumprimento dessa regulação? Temos que divulgar também para o Bacen toda nossa exposição e avaliação de risco desse tema, de todos os clientes da nossa carteira de crédito e operações de TVM, que são as operações de títulos de valores imobiliários. 

Hoje, além de eu ter que avaliar e gerenciar esse risco, tenho que dar transparência sobre esses riscos e oportunidades, tanto para os meus stakeholders quanto para o Bacen. 

Normativas de outros órgãos além do Banco Central

Fugindo um pouco de Bacen — porque a XP, além de ser banco, tem uma série de outros negócios —  olhando para a parte de seguros, a Susep, em 2021, lançou a resolução 666 que fala sobre requisitos de sustentabilidade. 

No meu dia a dia, também na XP de seguros, tenho que fazer toda a parte de ter uma política específica relacionada ao tema, um processo de gerenciamento de risco social, ambiental e climático com foco nesse negócio, tenho que ter um relatório de sustentabilidade para dar transparência e fazer divulgação, e tenho que monitorar todos esses aspectos também na parte de seguros. 

Mirando um pouco para a parte de fundos, a Anbima também lançou uma série de regras para fazermos a classificação de fundos de investimento com selo ESG.

Então, se até 2020, tínhamos só um normativo, e não um arcabouço regulatório para cumprir, a partir daquele ano surgiram diversos. 

E, na XP, por ser uma instituição financeira um pouco diferente, que vai desde investimento de pessoa física, tem suas assets, trabalha com os fundos, mercado de capitais, tem capital aberto lá fora, na Nasdaq — então, tem uma regulação específica também que temos que divulgar informações de risco climático. Tem a vertente do banco, para implementarmos todas as obrigações do Bacen. 

Por tudo isso, o desafio ficou muito maior do ponto de vista de cumprimento de agenda regulatória e, hoje em dia, o tema está muito mais em destaque. 

Qualquer deslize ou descumprimento de alguma dessas regulações — você falou bastante de greenwashing também — se a instituição financeira tentar fazer alguma coisa que pareça ou seja esse conceito, acaba ficando exposto. 

Porque, atualmente, além de cumprir as regulações para fazer o gerenciamento e as análises, você tem que dar total transparência desses processos e avaliações, não só para os órgãos reguladores, mas também para todos os stakeholders. 

Tem uma questão muito grande também de risco de imagem, com a qual nos preocupamos, além do cumprimento regulatório que a XP corre relacionando os temas de riscos social, ambiental e climático e de ESG como um todo.

A importância do profissional ESG do futuro

Leo

Se colocarmos tudo em uma lista, vai dar um nó na cabeça de quem está ouvindo porque, de fato, é muita coisa para se preocupar. 

Como você falou, o setor financeiro, pela própria característica, acaba antecipando tendências e sendo mais rígido com coisas que acabarão reverberando ou, de certa forma, chegando em outros segmentos. 

Acho que agora, por conta desse protagonismo, dessa agenda ESG, está surgindo muito profissional de sustentabilidade voltado para a gestão de riscos climáticos e socioambientais fora do setor financeiro e isso tem, realmente, se popularizado bastante. 

E o que você, Fábio, poderia falar para essas pessoas, com mais de uma década de casa nessa área? Com certeza, tem muita coisa legal para compartilhar, mas também muito erro, muita frustração e muito problema no meio do caminho.

Se tiver, talvez, um grande aprendizado, um grande erro que você acha que seria interessante falar para essas pessoas não cometerem, o que você diria?

Fábio

Bom, vamos lá! Acho que foram muitos erros e acertos nesses 13 anos. Acredito que um — se eu pudesse falar para o Fábio, há 13 anos —, diria que, uma das coisas que eu melhoraria no começo é que: quando a gente é muito jovem e gosta bastante do tentamos convencer nossos pares e as pessoas no cerne da questão social, ambiental e climática.

Porém, diria que um movimento que eu faria antes e mais rápido, seria sempre tentar correlacionar o tema social, ambiental e climático aos impactos que pode trazer nos negócios da empresa ou da instituição financeira onde você trabalha. 

Eu seria, no começo da minha carreira, menos passional e mais racional, mostrando que essas questões, no final do dia, também são riscos e podem impactar a companhia tanto no aspecto de risco de crédito, legal e de imagem. 

Ou seja, o tema social, ambiental e climático não é algo para tentar deixar o mundo mais bonito ou melhor. Mas, no final do dia, é um tema de gestão de risco. 

Esse gerenciamento, no fim, melhora e potencializa a gestão de risco da instituição financeira como um todo. 

Assim, se eu gerenciar o risco social, ambiental e climático, estarei mitigando o risco de crédito, o de mercado, o legal e o reputacional. 

Uma dica que eu daria para esses novos profissionais que estão começando é: 

"Sejam cada vez menos passionais e mais racionais, porque acho que as coisas tendem a acontecer mais rápido e as pessoas a entender um pouco mais o tema, quando conseguimos fazer essa relação entre as questões sociais, ambientais e climáticas, com as questões, de fato, do negócio". 

Quem é o profissional ESG do futuro?

Leo

Gosto muito dessa visão e acho que essa racionalização agora, mais do que nunca, é importante porque, de fato, os impactos estão chegando. As empresas estão "apanhando" por uma falta de gestão de riscos nessa agenda, não só por "se não fizer, ficamos mal na fita".

Antes, ninguém conseguia medir o impacto, ninguém conseguia atrelar isso, realmente, a uma perda. Hoje, acho que esses resultados são mais reais do que nunca. É meio paradoxal dizer isso, mas é importante essa racionalização para não só se deixar levar pelo "oba oba"

Porque acredito que tem muito "oba oba" da agenda, está na vez, é pop, é popular. Mas, realmente, como torná-la palpável? 

Essa sua dica, acredito ser fundamental para as pessoas começarem, talvez, da maneira certa. Não tentarem entrar pela porta do "oba oba", porque isso acaba, queira ou não, as coisas se estabilizam e a racionalização é quem vai ditar as regras do jogo.

Você está no mercado financeiro, fala, não é? "Money talks"? Você sabe como esse jogo é jogado. E tudo isso, creio que dá o um gancho principal, Fábio, dessa conversa que está muito rica — poderíamos passar horas daqui ainda, aprofundando cada uma dessas vertentes.

Entretanto, como você mesmo falou dos profissionais ESG, sempre fazemos uma pergunta nesse podcast. Estamos aqui falando de procurement e compras. E, normalmente, falamos do comprador do futuro.

Só que, para você — porque você merece — vou adaptar essa pergunta e perguntar, até para, talvez, resumir para o Fábio, quem é o profissional ESG do futuro? 

Fábio

Bom, eu diria que não deve nem ser o ESG do futuro, mas tem que ser já o ESG do presente. 

Acho que tem que ser um profissional que saiba relacionar essas questões sociais, ambientais e climáticas com o core do negócio, da empresa que esse profissional está tocando. 

Diria que tem que ser um profissional bastante resiliente, porque, para trabalhar com questões sociais, ambientais e climáticas, e relacionadas a ESG, você tem que ser resiliente, pois terá muitas vitórias, mas também derrotas no dia a dia de convencimento das pessoas de que o assunto, de fato, é importante e tem relação com gestão de risco. 

É ter um negócio mais perene, menos arriscado. Enfim, diria que o profissional ESG do futuro tem que saber fazer essa correlação entre esses temas e o core do negócio. E isso é um profissional bastante resiliente, porque, tendo essa característica, no final do dia, ele consegue avançar.

E mesmo se for um profissional passional pelo tema, acredito que o processo de convencimento sendo racional, no fim, fará com que as empresas entendam a importância do tema para a rotina do negócio, fazendo as coisas tangibilizar e evoluir sobre o assunto como um todo.

Leo

Perfeito. Acredito que esse seu conceito se conecta muito com a própria visão que o comprador não pode, simplesmente, comprar sem entender o que é que o negócio precisa, sem estar alinhado aos objetivos da empresa.

E é a mesma coisa que você falou: a agenda de iniciativas sociais, ambientais e climáticas deve estar alinhada, tem que ser pensada de acordo com os objetivos de negócio.

Acho que isso, realmente, vai muito em linha com o que o computador do futuro também precisa estar atento, fechando com chave de ouro nossa conversa. 

Poxa, Fábio, foi muito legal, foi diferente do que a gente tá acostumado. Com certeza, muita coisa nova para mim que estou ouvindo, assim, eu aprendi "pra caramba". 

Para encerrar, se o pessoal que quiser fazer um benchmark, trocar uma ideia contigo sobre esse assunto, qual seria a melhor forma de encontrar? 

Fábio

Boa, Leo! O pessoal pode me encontrar via LinkedIn, Fábio Simabukuro, Instagram também, mesmo nome. Fiquem super à vontade para me procurarem por lá que a gente pode bater um papo e conversar um pouco mais sobre essas questões de ESG, risco social, ambiental e climático que, para mim, vai ser um prazer poder contribuir um pouco sobre o assunto.

Leo

Fechadíssimo, meu amigo! Mais uma vez, obrigado pela presença e a gente vai se esbarrando por aí. Forte abraço!

Fábio

Obrigado, Leo. Obrigado você e um abraço!

Leo

Mais uma conversa massa. Obrigado por ter escutado. Se você gostou, não esqueça de seguir nosso podcast.

Se quiser saber mais sobre a Linkana, acesse o site e siga as páginas no LinkedIn, Instagram e YouTube. Eu sou Leo Cavalcanti, CEO da Linkana.

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