Diante de um cenário de crise vivido hoje no Brasil, várias empresas buscam alternativas para fomentar a saúde e a sustentabilidade da sua cadeia de suprimentos. Com a dificuldade de acesso ao crédito além do alto custo associado às formas tradicionais de financiamento, grandes empresas buscam alternativas para manter sua cadeia de suprimentos saudável.
Iniciativas como a do BNDES, de fornecer crédito âncora para grandes empresas, têm potencial, mas possuem um grande desafio operacional, pois as empresas tomadoras de crédito devem fazer a gestão desses empréstimos.
Uma alternativa que vem ganhando popularidade na última década é a Supply Chain Finance (SCF). Nela, o comprador adota uma visão mais holística e atuante sobre a sustentabilidade financeira da sua cadeia de suprimentos. Continue a leitura para entender mais sobre o assunto.
O que é Supply Chain Finance?
Supply Chain Finance (SCF), ou Financiamento de Cadeia de Suprimentos, é um conjunto de soluções que visa promover a sustentabilidade financeira da relação entre um comprador e sua cadeia de suprimentos.
Segundo o estudo SCF Barometer 2018/2019, feito pela PwC em parceria com a Supply Chain Finance Community, as soluções de SCF mais implementadas são Reverse Factoring (RV) e a Dynamic Discounting (DD).
Essas duas soluções otimizam um aspecto importante da relação entre o comprador e seus fornecedores: o prazo de pagamento.
Cada lado busca condições de otimizar seu fluxo de caixa, onde o comprador quer estender o prazo para pagamento e o fornecedor quer receber o quanto antes por pedidos ou serviços realizados. Vamos detalhar melhor como cada solução funciona.
Além disso, o SCF é uma forma de desenvolver e fidelizar fornecedores estratégicos.
A Vale, por exemplo, criou um programa chamado Inove Capital para o desenvolvimento de fornecedores e incentivo ao conteúdo local. Ele inclui, entre outros serviços, a possibilidade de antecipação de recebíveis de bens e serviços executados.
Para as empresas que investiram em um plano de mitigação de riscos, o SCF oferece como vantagem a redução do risco de quebra no fornecimento de bens e serviços por dificuldades de capital de giro. Essa redução de risco operacional tem um impacto especialmente positivo na indústria.
SCF também pode ser usado como ferramenta para incentivar fornecedores a adotarem práticas mais alinhadas com preocupações do índice ESG (environmental, social, and corporate governance) da empresa.
Um exemplo é a Nestlè, que incluiu no seu programa global de SCF incentivos financeiros para fornecedores que adotassem altos padrões de ESG, resultando em uma redução de custo financeiro de 25% a 30% para os fornecedores participantes.
Como funciona o Reverse Factoring?
Fornecedores costumam resolver seus problemas de fluxo de caixa usando serviços financeiros tradicionais como Antecipação de Recebíveis. Esses serviços são oferecidos por Bancos e outras instituições financeiras autorizadas como Factorings. Essa operação não envolve o comprador e geralmente tem um custo elevado já que o risco de crédito é o do fornecedor.
Nesse cenário há pouca visibilidade da saúde financeira do fornecedor e os riscos de ter problemas na entrega do pedido ou prestação do serviço são mais elevados. Ademais, é gerado um maior custo financeiro para o fornecedor, que acaba sendo embutido no preço repassado para o comprador.
Uma alternativa a esse cenário tradicional é a implementação do Reverse Factoring. Essa iniciativa, geralmente, é implementada por empresas de grande porte com boa avaliação de crédito.
Nessa solução 3 partes estão envolvidas, o comprador, o fornecedor e uma ou mais instituições financeiras parceiras. Um exemplo é a UPS, que montou seu programa global de SCF em parceria com o JP Morgan Chase.
Uma operação típica de RV segue o seguinte fluxo:
- Fornecedor entrega um pedido ou realiza um serviço;
- Comprador sinaliza que fatura com recebimento futuro pode ser antecipada pelo fornecedor;
- Fornecedor solicita antecipação com desconto;
- Instituição financeira efetua o pagamento ao fornecedor;
- No prazo acordado entre comprador e instituição financeira, o valor da fatura é pago pelo comprador à instituição financeira.
Vale a pena ressaltar que a antecipação gera um desconto no valor total da fatura, mas esse desconto tende a ser menor do que o Factoring tradicional. Isso se dá pois o risco de crédito dessa operação passa a ser o do comprador, já que ele é o responsável por pagar o valor devido à instituição financeira e não o fornecedor.
Outro ponto interessante é que o prazo de pagamento pode ser estendido mediante acordo entre comprador e instituição financeira. Por exemplo, um comprador pode negociar com a instituição financeira que faturas antecipadas terão 30 dias adicionais para serem pagas.
Com Reverse Factoring todas as partes envolvidas são beneficiadas. Enquanto o fornecedor antecipa seus recebíveis com taxas mais vantajosas, o comprador consegue estender o prazo de pagamento e a instituição financeira executa uma operação financeira com baixo risco de inadimplência.
Como funciona o Dynamic Discounting?
Caso o comprador tenha caixa disponível para operacionalizar essa antecipação de recebíveis e queira maximizar a redução de custos, ele pode optar por implementar Dynamic Discounting.
Nesse tipo de solução, o comprador seleciona quais recebíveis ele permite antecipação e em contrapartida recebe um desconto predeterminado no valor da fatura para cada dia antecipado. O fluxo dessa operação seria o seguinte:
- O fornecedor fatura o pedido ou serviço prestado;
- O comprador cadastra a fatura como elegível com os termos de desconto por antecipação;
- O fornecedor solicita a antecipação com desconto de uma fatura;
- O comprador efetua o pagamento com desconto ao fornecedor.
Nesse caso, o fornecedor tem a opção de antecipar seus recebíveis diretamente do fornecedor com um desconto pré-acordado sem a participação de terceiros e com um custo, geralmente, menor que as alternativas tradicionais.
No vídeo abaixo, é explicado em mais detalhes, e de forma didática, o que é Dynamic Discounting. Apesar dele ser em inglês, é possível ativar as legendas em português para facilitar a compreensão:
Desafios de Supply Chain Finance
Um dos aspectos mais desafiadores de implementação das soluções mais populares de Supply Chain Finance é a operacionalização dessas transações. O esforço necessário para executar essas soluções internamente sem ajuda de ferramentas apropriadas é elevado e, muitas vezes, impeditivo.
Visando resolver esse problema e viabilizar a implementação de soluções de SCF, algumas fintechs surgiram nos últimos anos. Geralmente focadas em Reverse Factoring, elas ficam responsáveis pela operacionalização e pagamento dos recebíveis antecipados pelo fornecedor, fazendo com que o comprador só precise indicar na plataforma quais faturas autoriza que o fornecedor antecipe.
Mas antes mesmo de se preocupar com a antecipação de faturas, é importante garantir que os fornecedores, cujos quais sua empresa optou por fazer parcerias, estão dispostos a criar uma relação de sucesso e confiança.
E a Linkana pode ajudar nessa parceria. Com o nosso software, que usa as melhores tecnologias em RPA, automação e machine learning, é possível embarcar o Compliance ao Procurement em uma solução simples e eficiente.
O software reduz a burocracia e mitiga riscos em processos de homologação e cadastro de novos fornecedores, com o uso de robôs para rotinas de consultas e análises públicas de Compliance, simplificando e integrando a análise e controle de documentos privados de suas rotinas de cadastro e qualificação.
Ademais, a Linkana também realiza monitoramento de dados, armazenamento em nuvem e alertas de inconsistências e irregularidades na operação.
Aprenda como fazer uma gestão de fornecedores inteligente e guiada por dados na sua empresa.
Conclusão
As soluções de Supply Chain Finance ainda são pouco adotadas, mas se apresentam como uma ótima ferramenta para promover a sustentabilidade da cadeia de suprimentos.
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, o acesso a crédito é escasso e caro – e isso reflete em maiores riscos de quebra no fornecimento e custos financeiros mais elevados, que afetam negativamente o custo de toda a cadeia de suprimentos.
Ter uma postura proativa em desenvolver e auxiliar sua cadeia de suprimentos pode ser a opção ideal para gerar uma redução de custos e riscos operacionais, além de incentivar uma maior produtividade no longo prazo.